Paradoxos e círculos viciosos da odontologia.

Segundo a Wikipedia,  Um paradoxo é uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou à uma situação que contradiz a intuição comum. Em termos simples, um paradoxo é “o oposto do que alguém pensa ser a verdade”.

Vivemos alguns paradoxos engraçados  no Brasil. veja:

  • Já somos considerados a sexta maior economia do planeta, mas nosso ministro diz que  somente chegaremos ao nível de qualidade de vida da sétima economia  (no caso o Reino Unido) ou dos países europeus daqui a 20 anos. Leia aqui .
  •  Também temos o maior número de dentistas do planeta (clique e leia), mas acesso da população à odontologia continua restrito.

Então é fundamental que enquanto dentistas pelo menos lutemos  para mudar esse segundo paradoxo, ou seja, dar acesso à população aos serviços odontológicos.

Ok dar acesso a população é dever do governo, mas… Nossas entidades de classe tem que correr atrás disto e não criar movimentos fajutos, ridículos pouco significativos como que foi feito no dia do dentista (leia mais) que não agregam nada a nossa profissão.

Uma grande sacada que os conselhos e associações de classe deveriam é melhorar o nível do ensino nas faculdades, isso sim é fundamental.

Os estudantes cada dia saem com menos bagagem das faculdades de odontologia. veja o caso da Universidade Bandeirantes de SP (UNIBAN), que foi comprada pelo Grupo Anhanguera e mandou embora praticamente 50% dos professores, enxugando as disciplinas (leia aqui) . Ou seja, agora os professores que ficaram terão que se desdobrar em 3 para ministrar disciplinas e ou matérias que não lhe são muito familiares. Segundo declaração do DONO do grupo Anhanguera em reportagem publicada na Revista Exame PME (jan.2012) eles priorizam o ensino ( e não a pesquisa) e para isso não são necessários DOUTORES E MESTRES em seus quadros de professores, podendo os mesmos serem substituídos por CDs especialistas. Sendo assim, segundo ele,  conseguem cobrar mensalidades mais baratas, oferecendo oportunidade a jovens de camadas mais baixas de concluir um curso superior. Muito nobre o propósito da Anhanguera,  afinal em um um pais onde  tinhamos um modelo que privilegiava somente jovens vindos de famílias com altas rendas que conseguiam se formar em um curso superior, esse modelo da Anhanguera deveria ser enaltecido. Mas em cursos da área de saúde, onde o cliente paciente do recém formado será um “SER HUMANO“, será esse enxugamento de custo algo saudável? Será que a formação oferecida em cursos mais enxutos, ministrados por especialistas adequada ou suficiente para fornecer bagagem ao recém formado, por exemplo em odontologia, para superar os primeiros desafios à frente de uma situação emergencial que envolva um ser humano?

Mas a Anhanguera não é a única, outras Faculdades/Universidades particulares em todo o Brasil estão reduzindo o número de professores por disciplina e juntando, por exemplo 3 disciplinas que eram ministradas isoladamente em 4 a 5 semestres de forma independente em apenas 3 semestres unificados, ou seja, reduzindo a carga horária absurdamente. O mercado de odontologia já está uma coisa de louco, e ai saem os pobres recém-formados, sem uma formação adequada.. Hum isso não vai ficar bom…

Bem ai temos não um paradoxo, mas um  circulo vicioso:

Faculdades de odontologia devido a concorrência cobram cada dia menos dos alunos, com isso acabam  reduzindo a carga horária dos cursos e pagando cada dia pior a seus professores, que sem tempo para ministrar as matérias de forma adequada, literalmente “vomitam”os conteúdos à seus alunos, isso  gera profissionais  recém jogados formados com pouca capacitação , que por sua vez alimentam os famosos cursos de atualização, que nasceram para  suprir a demanda educacional dos recém-formados e por que não dizer a demanda financeira dos professores… que escondem o ouro não ensinando tudo nas faculdades (por falta de tempo ou mesmo vontade) acabam  gerando  “clientes” em seus cursos, e assim sucessivamente..

A situação está feia, o mercado com certeza vai se regulando, mas até isso acontecer vemos o nível de nossa profissão cair cada dia mais. Veja que um recém formado em administração, marketing, economia, geografia, cinema pode cometer erros em seu primeiro emprego sem, digamos, matar o seu cliente, em odontologia esse risco, mesmo que baixo, existe. Algo para se pensar.

Bem o ano está começando e ficamos aqui na torcida para que algo de positivo aconteça em nossa profissão. Que nossas entidades se mobilizem por causas justas e pertinentes e façam jus aos dinheiro que pagamos em nossas mensalidades e anuidades.

Espero não ter parecido muito pessimista ou duro com nossa realidade, fui?

E você o que pensa disto tudo?

Forte abraço,

Marcos Rocha

 

Cirurgião Dentista, Mestre em Odontologia pela FOUSP , Pós graduado em Radiologia e Administração de Empresas, Docente Superior Graduação e MBA em Saúde, Consultor em Gestão Organizacional e Coach e Palestrante, Membro da Sociedade Brasileira de Coach e da Sociedade Brasileira de Negociação e Vendas.

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Cirurgião Dentista, Mestre em Odontologia pela FOUSP , Pós graduado em Radiologia e Administração de Empresas, Docente Superior Graduação e MBA em Saúde, Consultor em Gestão Organizacional e Coach e Palestrante, Membro da Sociedade Brasileira de Coach e da Sociedade Brasileira de Negociação e Vendas.

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6 Comments on “Paradoxos e círculos viciosos da odontologia.”

  1. Em minha opinião o governo tem interesse em formar um grande numero de profissionais para tentar reduzir o s valores praticados pelos dentistas e certamente tem conseguido!
    A avalanche de profissionais no mercado cria uma concorrência de preços, cabe ao CRO , como citado no comentário de Joaquina Capuano, tratar de estabelecer um mecanismo de qualificação dessa enxurrada de dentistas mal preparados e que na visão do leigo teriam a mesma qualificação que qualquer dentista formado à moda antiga!
    As Universidades estão não só reduzindo o número como o salário dos professores e acabam prejudicando a qualidade dos profissionais gerados por elas e como a população não sabe a origem dos maus profissionais e nem está em condições de avaliar a qualidade dos serviços prestado até que os tratamentos fracassem as Universidades não se preocupam com a qualidade dos profissionais que formam. Enfim, precisamos encontrar mecanismos de qualificação dos cursos e dos profissioanis pelos órgãos que deveriam ter essa competência já que tem a atribuição de fiscalizar o exercício da profissão! E meios de orientar a população sobre os riscos de se submeterem a tratamentos de má qualidade!

    1. É Agnaldo você está coberto de razão assim como a Joaquina. Infelizmente o governo e os governantes diferente do que deveria ocorrer em um pais sério, so pensam a curto prazo. Não há projeto de um pais melhor e sim de um pais até as próximas eleições e a população em geral é acomodada demais para cobrar ou melhor exigir as mudanças necessárias. E ai a coisa ta indo para o beleleu, como dizem..
      Obrigado por sua participação e seu comentário muito pertinente.
      abcs

  2. Bom Dia.
    Parabéns Marcos Rocha.
    Uma ótima crítica, muito bem fundamentada!
    A algum tempo atrás também recebi q informação de que a faculdade onde me formei a alguns anos atrás também estava passando por modificações, onde estavam fazendo uma INTEGRAÇÃO DE DISCIPLINAS para proporcionao ao aluno um melhor aprendizado, facilitando a eles a conciliação entre disciplinas, isso era a explicação pelas demissões de grande parte do quadro de professores, essa é uma realidade incontestável, recém formados sem nenhuma preparação para o mercado de trabalho, inumeros cursos de atualizações e a constante crítica por parte de profissionais de que o mercado de trabalho de odontologia está saturado!
    Parabéns pelo texto.

  3. Muito boa a análise, vejo que muitos colegas estão buscando mais esse meio de comunicação pra se expressar. Gostaria que tudo isso pudesse ser sentido com peso pelo nosso conselho, que na verdade fica com interesses paralelos e muitíssimas vezes egoístas e políticos, mas no discurso afirmando que estão a nosso favor. Como poderíamos nos agrupar , ainda que inicialmente seja por blogs, sites,ou aquele face de dentista esqueci o nome… enfim temos muito o que lutar , Marcos nos ajude a nos organizar de maneira que cause um efeito nos CFO e CRO. Já questionei num congresso sobre ética no meu CRO, sobre essa questão de planos e faculdades ao léu, mas se limitaram a me dizer que assim era de interesse do MEC e que pouco poderiam fazer . Enfim Brasil,que louco, mas que amoo e quero bem! Abs!Parabéns!

    1. Esse é um dos problemas no Brasil Joaquina, a falta de uma lei que diga exatamente quem cuida do que.. ai vira esta bagunça com muita gente legislando e ninguem resolvendo.. Com diz o ditado: cachorro que tem dois donos ou morre empanturrado ou morre de fome…
      abcs e obrigado pelo seu comentário.

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